O que é difícil é que chegou a um ponto que não preciso estar com você para você estar comigo.
Eu vou na livraria e o primeiro livro que me olha é do seu autor favorito.
Eu assisto um filme e você faz um comentário na minha mente sobre a coisa mais imperceptível da cenografia.
Eu desço sempre na sua estação do metrô, mesmo andando de ônibus.
Eu leio as matérias na internet que você costumava me mandar.
Eu ando pelas ruas em que você segurou minha mão.
Eu ando pelas ruas em que você não segurou minha mão também.
Eu como a comida que você pediu para mim.
Eu vejo as fotos em que você não está.
Eu ouço as músicas de mal gosto extremo que você gosta no som ambiente do shopping.
Não dá pra fugir de alguém que está tão dentro de mim.


Tenho uma dor enorme dentro de mim.
Velha conhecida. Estava dormindo.
Eu acordei ela com as minhas mãos. Sabia, desde o começo, que não devia cutucar, mas eu me ignorei. Eu tapei os ouvidos para minha própria voz porque fiquei encantada pelo som da flauta, e fui seguindo aquela música doce por todos os caminhos que me levou.
Eu vi as nuvens negras sobre mim, vi o sol, senti a tempestade caindo sobre os meus ombros com suas gotas grossas: ainda assim, segui a melodia por todos os trajetos existentes entre o céu e o inferno.
Agora estou no silêncio. No silêncio e no escuro, presa com a dor que existia dentro de mim e despertou novamente. Confesso que perdi parte do meu raciocínio nessas idas e vindas. Eu não sei ao certo distinguir o que é a velha dor e o que é o momento atual... há tantas intersecções. Sei que as lágrimas que ainda insistem em estourar não têm nada a ver com minhas dores antigas, são só e totalmente pertinentes ao agora.
Não tenho palavras para expressar o que ninguém além do meu corpo entende. Não tenho lugares mais aconchegantes para fugir além do interior tenebroso da minha própria essência. Estou acuada entre a presença e a ausência, entre o falar e o não dizer, entre o ouvir e o virar de costas. É como se não tivesse escapatória possível. Entendo porque as pessoas fogem, é por causa do desespero tão grande. Ao mesmo tempo eu sei o quanto isso não adianta, porque não dá pra fugir do seu próprio ser. Não dá.
Tenho tantas vontades a fazer. Tantos atos pensados e impensados, tentativas de gritar, explodir para não implodir. Eu me controlo tanto. Tanto de tanto é o tanto que eu escondo.
As palavras são minhas lágrimas. Elas fluem sob a ponta ligeira dos meus dedos, não importando em fazer-se entendidas. Minhas lágrimas são sentimentos não dominados, são a Beleza Negra.
A cada dia que passa (ou se arrasta?) eu penso e sinto que não há saída além da distância como fim. Não quero me deixar convencer, mas também não quero lutar. Lutar sozinha é algo que não tenho mais feito, promessa que coloquei no lugar da que anteriormente quebrei.
Quero ir também. Mas ir pra onde ?

Cala-boca astrológico 2: a volta
Go on -- let go, and let life (and love!) flow. It's only by allowing things to be what they are, by seeing from different points of view, that you'll find what and who is most meaningful to you now.


"Não é porque uma coisa é boa que a desejamos,
mas só porque a desejamos é que ela se parece boa para nós."


Assim diz Spinoza, e eu me encontro com essa fala através da pesquisa para minha monografia. O impacto dela, contudo, vai muito além dos parágrafos que, em vão, eu tento escrever até o amanhecer (faltam 3 horas). Ela se reflete exatamente no seio da minha vida. Nas minhas vontades e angústias, no que busquei e pelo que tenho chorado todos esses dias.

Eu vi. Vi agora, há pouco, naquela epifania da Lispector que eu tanto desdenho. Vi que não era bom. Que não tinha, aliás, nada de bom, nada além de uma distância fria e um make-believe de cuidado.
Vi que não eram boas as palavras falsas em que eu fingia acreditar. Que não era boa a intenção, pois essa era pura e simplesmente carregada de displicência.
Não era bom o coração nem as insistênsias (minhas, sempre) de torná-lo bonito aos olhos do meu pensar.

Vi que não era bom.
Parecia boa pois eu a desejava.

Desejei, ah! desejei. Com toda a minha intensidade. O meu carinho profundo e mais sincero. Desejei pra toda a vida, da maneira como viesse, nas regras que fossem. Desejei e sabia que arcaria feliz com quaisquer custos que me impusessem para a realização do desejo que pedi.
Desejava tanto que para mim parecia incrível.
Parecia sorvete confeitado.
Parecia perfeição com defeitos.
Parecia beleza mal-interpretada.
Parecia super-herói ou cavaleiro capa-e-espada.
Parecia inesquecível.

Inesquecível porque desejei que fosse. Desejei profundamente que algo tão significativo na minha linha do tempo tortuosa não fosse um mero acaso. Desejei que não viesse um dia a encontrar na churrascaria e olhar profundamente tentando puxar na memória se eu realmente conhecia ou se eram peças da cabeça.

Parecia tanto porque eu desejava muito.

E, de repente, com o fim cambaleante do desejar, vi que não era bom.
Cristais tocaram notas dissonantes no meu ouvido ao caírem no chão.

Não era bom como eu.
E não era bom como ele.

De repente, não era nada.



Ha, que merda.
Ou eu tenho um imã muito grande (vide 2 posts ago)
Ou eu sou muito banal.
Vai, enquete ! Sou banal ou sou um imã ?

Porque assim, néam... coincidências aquecem... mas tantas... !
Você já fica se sentindo meio redícula.

Fora essa dor no cotovelo esquerdo, queria registrar mais uma coisa: impressionante como as pessoas passam pela nossa vida sem a gente ver ! Fico chocada. Encontro essas gotas de personalidade mais no virtual que no real, e pior: não é por falta de oportunidade no dia-a-dia. Acho que eu sou meio displicente com o negócio de conhecer, amizadear. E meio que todo mundo é também displicente, então, a menos que se esteja num ambiente "meet him or die", você conversa conversa e não se apega.
É a sociedade do desapego.

(mas também quando apega... errado. errado. estou ficando doida)


"...e quando eu for livre, irei te encontrar. É uma promessa..."

Faz tanto tempo essa promessa. E hoje, dias mais próxima de uma data especial, eu penso na validade dela.
Não é mais um "to do" na minha vida. Já cumpri minha palavra e ela me faz pensar muito no passado, no agora e no que esperar do futuro. Alguns laços não se rompem jamais. É impressionante como continuam firmes, recentes e pulsantes. Mas outras coisas se apagam. Convivência se apaga. Memórias se apagam.
Dia-a-dia.
Ah, como EU sei o quanto o dia-a-dia é importante.
É por saber disso que não mais lamento o passado, nem tento reacender fogueiras que queimarão eternamente em brasa. Lamento, entretanto, novas chamas que eu vejo se apagando na minha frente. E pelas quais nada posso fazer.


Eu sou meio marinheira. De navegar sem bússola olhando as estrelas... e encontrar ilhas peridas.
Eu tenho um imã interno. Entre histórias e sentimentos de outros encontro meus iguais dentre o mundo enorme do desconhecido.
Eles gritam as minhas dores. Suspiram a minha voz. Contam a minha história.
Eu não me exponho porque eles explicitam tudo no meu lugar. Cantam minha vida em suas músicas.
E, ao contrário do que a letra diz, isso não me mata, mas sim me acaricia suavemente.
Mas também me traz de volta o nó na garganta, as palavras de sorte que eu engoli, as lembranças que continuam à minha porta.
Não tenho como esquecer agora. Não tenho como superar. Não quero, acima de tudo.
Mas também tenho consciência de que você está pisando no jardim de flores. E sim, elas morrem.
Vou rezar para que agüentem até a primavera.



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