Eu não sei falar do meu amor para o mundo,
então deixo o mundo falar do meu amor:


Quando os olhos emprego no passado,
De quanto passei me acho arrependido;
Vejo que tudo foi tempo perdido,
Que todo emprego foi mal-empregado.

Sempre no mais danoso, mais cuidado,
Tudo o que mais cumpria, mal-cumprido;
De desenganos menos advertido
Fui, quando de esperanças mais frustrado.

Os castelos que erguia no pensamento,
No ponto que mais altos os erguia,
Por esse chão os via em um momento.

Que erradas contas faz a fantasia!
Pois tudo pára em morte, tudo em vento;
Triste o que espera! Triste o que confia!



Não tenho mais esperanças
Então de esperar me ponho a viver:


Busque Amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê;

Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei por quê.


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