Tem uma hora que você não precisa mais de luz para andar na sua casa. O escuro é acolhedor, aconchega, os caminhos se abrem.
Você sabe onde está cada móvel. Sabe o sorriso de cada quadro.
Na verdade, os degraus da escada até se movem pra que você não tropece, pois eles reconhecem a altivez do dono. Quem manda.
Procuramos isso, acho. Fora de casa, nos outros, na vida. Um lugar onde se possa andar sem medo de que nos falte o chão, sem receios de o sofá ter mudado de lugar sem que percebessemos. Porque ele sempre muda. Cada dia eu vejo uma disposição diferente. Interna, externa, mudanças. É horrível.
Falta de lar. Esse sim é o pior dos mundos. As coisas simples, o jogo americano, toalha engomada no natal. As fotos ruins de família.
Queria ter mais fotos ruins, tremidas, a luz fraca e amarelada tingindo todos com as cores de casa. Refletindo em cada face as paredes e os sussurros nelas encerrados. Fotos em movimento que não são filmes, risadas que são silêncios tremidos.
Falta de lar. A procura incessante pelos móveis no lugar, o caminho conhecido, o interruptor da cozinha surgindo magicamente sob os dedos.

Clic.

Liga-se a luz.

Ok. Estou muito saudosista e melancólica. Não me julguem.


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