Tanta coisa passa na minha cabeça agora que é até difícil organizar os pensamentos. Nos últimos dias aconteceram alguns eventos que me levaram a pensar onde e como eu estava nesse mesmo momento o ano passado...
Percebi que nada mudou.
Quer dizer, muita coisa rodou, mudou, se transformou, mas no final mesmo tudo voltou às suas posições iniciais.
O que parecia curado, sangra. Me pergunto como pude me enganar, depois lembro como é boa a sensação de ilusão. A sensação de que as coisas imutáveis podem sim mudar. Que os problemas insolúveis quem sabe podem se resolver.
Tudo besteira.
E nessa, assim como em várias outras situações da minha vida, vejo que caráter não se muda. Uma ver deturpado, uma vez apodrecido e ruim... assim será para sempre.
Com os primeiros sinais, as primeiras mentiras, ainda há aquela tentativa boba de desviar o olhar: "ah, mente porque se envergonha". Pouco tempo para viver nessa ilusão. Pouco tempo para ver que a vergonha de fato não existe, pouco tempo para ver que a luta é mais uma vez perdida.
Aí vem a hipocrisia. Vem o cinismo. E a obrigação de conviver com tudo aquilo que desprezo com todas as minhas forças. A farsa, os olhares trocados em silêncio, a dor partilhada.
Pequenos gestos são notados, a audição fica aguçada, procurando o próximo sinal de piora, o próximo passo para um caminho que além de não ter volta, apenas se torna mais triste e infeliz.
Ainda assim o que mais me incomoda é a violência das atitudes. Violência que não se pode combater, que não há denúncia possível, que sequer se pode comentar. A violência de esfregar na cara de todos o quanto somos inúteis, fracos, insignificantes, marcados e - principalmente - impotentes.
Creio que certas coisas não podem ser contadas, ou traduzidas, ou divididas com alguém que não as vive. Não é uma questão de se endurecer, ou se proteger, mas apenas que não é possível alcançar o entendimento dessas situações sem que você tenha as marcas latejando no próprio corpo e alma.
Por isso que eu prefiro conversar com o vazio.
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