"Não é porque uma coisa é boa que a desejamos,
mas só porque a desejamos é que ela se parece boa para nós."


Assim diz Spinoza, e eu me encontro com essa fala através da pesquisa para minha monografia. O impacto dela, contudo, vai muito além dos parágrafos que, em vão, eu tento escrever até o amanhecer (faltam 3 horas). Ela se reflete exatamente no seio da minha vida. Nas minhas vontades e angústias, no que busquei e pelo que tenho chorado todos esses dias.

Eu vi. Vi agora, há pouco, naquela epifania da Lispector que eu tanto desdenho. Vi que não era bom. Que não tinha, aliás, nada de bom, nada além de uma distância fria e um make-believe de cuidado.
Vi que não eram boas as palavras falsas em que eu fingia acreditar. Que não era boa a intenção, pois essa era pura e simplesmente carregada de displicência.
Não era bom o coração nem as insistênsias (minhas, sempre) de torná-lo bonito aos olhos do meu pensar.

Vi que não era bom.
Parecia boa pois eu a desejava.

Desejei, ah! desejei. Com toda a minha intensidade. O meu carinho profundo e mais sincero. Desejei pra toda a vida, da maneira como viesse, nas regras que fossem. Desejei e sabia que arcaria feliz com quaisquer custos que me impusessem para a realização do desejo que pedi.
Desejava tanto que para mim parecia incrível.
Parecia sorvete confeitado.
Parecia perfeição com defeitos.
Parecia beleza mal-interpretada.
Parecia super-herói ou cavaleiro capa-e-espada.
Parecia inesquecível.

Inesquecível porque desejei que fosse. Desejei profundamente que algo tão significativo na minha linha do tempo tortuosa não fosse um mero acaso. Desejei que não viesse um dia a encontrar na churrascaria e olhar profundamente tentando puxar na memória se eu realmente conhecia ou se eram peças da cabeça.

Parecia tanto porque eu desejava muito.

E, de repente, com o fim cambaleante do desejar, vi que não era bom.
Cristais tocaram notas dissonantes no meu ouvido ao caírem no chão.

Não era bom como eu.
E não era bom como ele.

De repente, não era nada.


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