Por falta de motivação a fazer coisa melhor, fiquei em casa nesse chuvoso primeiro fim de semana de outono. Por falta de motivação a fazer coisa melhor, peguei umas fotos velhas e comecei a olhar.
Daí lembrei: odeio fotos.
Não que eu não tire fotos ou que não goste de sair nelas, pelo contrário, é até um hábito. Só que mesmo assim eu detesto olhar para elas. Quando tudo está apenas no preto e branco da memória, evanescendo com o desgaste do tempo, não sentimos mais a dor do lembrar. Contudo, aqueles pedaços de papel especial (e no futuro aqueles bits...) acabam por retornar a cor às lembranças, dando-lhes vida, som, moviemnto. Os rostos não estão mais congelados no tempo, mas sim dão risadas no seu ouvido, gritam de felicidade ou pavor; os lugares aparecem sob os pés e lá estamos nós novamente andando pela praia. Tanta vivacidade desperta o sentir, tanta alegria nos lembra da dor e da tristeza dos momentos de outrora: precisamos nos lembrar do amargo para sentir também o doce.
A verdade é que deveria parar com esse processo masoquista de reanimar os fantasmas decrépitos do ontem, mas é impossível.


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