E com velocidade incrível, passou-se um ano. Quase não dá pra acreditar no que era minha vida há um ano atrás, exatamente. Estou totalmente sem vontade de escrever, mas vou quebrar o hiatus com um post comemorativo.
Tentando não ser (muito) piegas.
Cada um dos últimos dias foi uma sucessão de choradeiras secas, lembranças remoídas, risadas encavaladas. Vontade de fazer montinho no rosa de novo, de ser expulso do "expulso", de longas reflexões na madrugada sobre porque pessoas iriam numa lanchonete de pijama. É como estar embebido em memórias, sufocado, relutante, algemado. Todo o último ano foi ruim ? Definitivamente não. Coisas boas aconteceram, alegrias, tristezas, vida - mas sem aquele gostinho de fairy tale. É como eu mesma postei na comunidade dos Cast Members 05/06: não é que na Disney não tenha coisas ruins e decepções, não é que não tenha bruxas más e veneno em maçãs, mas, como em todo conto de fada, você sabe que no final as princesas (and we're all princesses) sempre vencem e reluzem em seus palácios de cristal. Não é vida real, é magia.
Um fuga da realidade. Tipo drogas.
Não é a toa que 100% dos usuários está com síndrome de abstinência eterna do paraíso. De acordar 3.30 AM porque a maldita van pro Wild World of Sports sai as 4, e se você perder, você sabe que não há monorail ou ônibus de guest que vá te levar praquela PQP, com o perdão da palavra. E você sabe que vai chegar lá - um lugar incrível, melhores horas extras ever - vai se perder muito para encontrar a tal Milkhouse, o tal Locker (apesar de você ter ido buscar a costume no dia anterior), os tais carrinhos de golfe com tiozinhos legais te dando carona pralá-e-pracá, os 500 campos de futebol americano, softball (softball!!!), beisebol, futebol tradiça mesmo, verde, verde, verde que não acaba. Daí você tropeça em grupos e grupos de cheerleaders (elas existem, sairam dos filmes mesmo), que lotam todas as partes, aquele sorriso idiota no rosto, os túneis (discretos, comparados com os do Magic), a salinha do manager (may I have a locker?), aquela baguuuuunça de quem-vai-pra-onde-fazer-o-que, a lanchonete A1, B3, C4 (onde fica isso, moço??), o estádio ou o ginásio, "sim, eu opero Matra, deixa eu te dar meu número" (que não vai ser desbloqueado e depois você inevitavelmente vai caçar o tio manager por aquela gingantice de lugar), filler, cashier, runner (best position ever), nachos with cheese, nachos with cheese sem abrir o pacote (loucura de americano), hot dogs sem gracíssimos, sementes de girassol (do you REALLY eat this ?! it's for birds !), monster pretzels (salted ?), beisebol da 4ª divisão, maníacos, chat 'bout stupid things allllllll afternoon, can I have my break now?, nextels malditos que eu nunca vou compreender na minha existência, nem com um CPE na mão, golpes e migués que só um cast consegue dar, dormir na mesa do breakroom porque era a única hora que eu tinha pra dormir, máquinas que vendiam de tudo (menos um Prince Charming), americanos muito legais, americanos muito chatos, guests fofos de levar pra casa e pendurar no chaveiro, cha-cha-slide, cha-cha-slide no Scuttle's, comer os marshmellows todos, deixar os americanos azedos no backstage, dançar, cantar e atuar, afinal estávamos on stage! coleção de pins no colete, famílias, solteiros, jovens, tiozinhos, crianças, amigos, bagunceiros, briguentos, chatos, irritadinhos, problemas de alergia com uma coisa que eu não sei o que é até hoje, jogar comida no lixo ignorantemente, fechar a pretzel wagon na chuva, abrir a pretzel wagon 2 minutos depois (when dumbo starts), little world ride, peter pan ride, Pinocchios sempre fechado, Tigre e o Dragão no Launching Pad, fechar o Space Dog com os produtos cancerígenos transgênicos que limpavam gordura como se fosse água, açúcar de mentirinha, coca-cola ruim que dói, lemonade !, mais lemonade, mamita, 10-4, 10-54, estar de guest e rir da Becky, rodar o MK espalhando a fofoca da Becky, gostar da Becky, dark side, tratar 400 dólares com displicência, banco Vista, West Clock, thanks for comin' in... have a nice evening, povinho mais tosco ever no wardrobe maior e mais legal, conseguir casaco de inverno no SEU número e guardar ele pra sempre, costumes especiais para o natal, cookies and cider, conversível numa puta highway às 3 da manhã ouvindo nickleback (não faço idéia como escreve) com o manager master fofo da sua hora extra, aprender inglês de gangster, inglês dos manos de New Jersey, americanos tímidos que dói, americanos fofos e loirinhos, me desapaixonar, não ter vontade de ligar, desintoxicação, 3 horas pra chegar no aeroporto, ônibus inexistentes mas pontualíssimos, spirit air, northwest, reservas online, laptop alheio, very merry xmas parade, mandar o guest voltar ano que vem !, strollers !!! mais strollers !!! empilhar, desempilhar, derrubar uma pilha de 3 metros como se fosse normal, trabalhar folgadamente no backstage dando graças a alah porque o mundo já tava girando a sua volta, mais cochilos no breakroom, fazer clock in e depois trocar de roupa, roubar brownies (os mais deliciosos do universo), manager mão-de-vaca-cara-de-pau, carregar baldes d'água do Groves pro Potts, limpar o Potts sem água ou com água nojenta de marrom, jogar a sujeira no chão porque não é sua responsabilidade, IT'S SOOOOOOOO GROOOOOSSSSSS, acabar gostando da pobre garota, despedida dos americanos do Summer, chegada dos brasileiros em massa em janeiro, ser mau com os brasileiros, amizades no Columbia, não saber nem o que vende no Columbia, bussing n trays, amar Stands East, call in factor rules, brincar de usar costume de menininha, 5 ounces, não saber até hoje quanto é uma ounce, ninguém saber de falar quanto é uma ounce, sanduíches com inredientes loucos que eu não sei o nome nem em português, frigorífico bagunçado e unhas pretas, se queimar diversas vezes no steamer, sempre esquecer do steamer, cinnamon sticks, pessoas comprando uma coisa que a menos de um metro você podia ter de graça, pessoas comprando durante o Wishes, pessoas comprando, comprando, comprando. Ingleses do interior da bretanha com um inglês surreal, galerinha do Haiti, stocker não é trabalho !, roubar sorvete do coleguinha, whipped cream machine tosca, milkshake = sorvete mole e explicar pro guest que não é culpa sua, sorvete mole e cones, sprinkles com sorvete mole, ser cashier com duas janelas, call for pennies, amor aos pennies, devoção por pennies, disney dollars e cartões de crédito super-hyper-high-ultra-fashion, tradicions, nametags, tell-a-cast salvador da pátria, saber que os brasileiros são os mais legais, se apaixonar pelos peruanos, se convencer que os argentinos não deviam interagir com o resto do universo e que os cariocas são o ó do borogodó (e não é preconceito de paulista), sair do trabalho com sotaque sulista, morrer com o sotaque de fortaleza (mas eles são adoráveis), amizades na fila da everest, fastpass para a everest, chupa guest porque eu sou cast !, festinhas do vista way, vista way, vista way, vista way. Paz de estar sozinha em casa, alegria de roomies reunidas, 7º, 8º, 9º, 10º roomate e so on, tretinhas, roubos de haagen daz, cuban bread, salsichas defumadas e arroz de microondas, congelador full of michelinas, steak = hamburger ?, criar caminhos malucos pra indicar as coisas pros guests, Manson, mudar de job em 2 minutos usando os "gatos" do time to walk, se gabar por quase todos os outros casts não terem time to walk, Gary, explicar as coisas mais mirabolantes com nomes bizarros no assessment, 7 guidelines for guest services and 7 dwarves, make each and every guest feel special, blackberries, Wishes pela porta dos fundos do MK (best view), golpinhos para tirar o break no Wishes, star light star bright each and every day and miss it, extra magic hours, DJ super lindo no natal, cantar e dançar as mesmas músicas de natal junto com os operations, fazer os americanos emburrados rirem, ser defendida pelos managers, vender algodão-doce no Fantasmic, ter seu banco da forma mais desorganizada possível e dar tudo certo no final, double-ride na Tower of Terror, ferry boat como meio de transporte, last Wishes, árabe no Epcot e a super dança do ventre com os tiozinhos americanos safados, Jasmine e Alladin, tampico no restaurante, Rainforest com elefantes e girafas, ofertas e 30% de desconto dos casts, property control, MUITOS Eclipses, ser a tira-dúvidas da galera, ir comprar 5 CDs na Virgin e sair com 3 livros, desprezar playstations e ipods, cinema a meia-noite, cirque du soleil sem querer, visitar amigos no trampo pagando de guest, pagar de guest SEMPRE que possível, vontade de ajudar, orgulho de ser cast.
Essa tem sido nossa vida de casts desgarrados no último ano, lembranças intermináveis em forma de lista, brainstorm de memórias. Cada um tem seus motivos, o meu é trauma de esquecer.. não quero perder esses dias como já perdi tantos outros.. não quero mais perder.
Pessoas como eu estão em recuperação constante, cada dia uma luta, cada dia uma pedra no sapato, uma dor, uma ferida aberta. Ainda tenho muitas recaídas. Às vezes penso se certas coisas realmente tem recuperação, ou se elas ficam no máximo latentes, à espreita, olhando com seus olhinhos de palhaço e balões de gás. Não sei mais. Estou tentando. Tentando. Um ano e cansada.
Só na fuga total encontrei felicidade. Haverá outro caminho ?
Algo que escrevi num lugar que vou certamente apagar em breve mas quero deixar imortalizado (meio dramática demais a palavra, mas vale a intenção).
Sou alguém que já viu e viveu muita coisa por trás desses olhinhos brilhantes e cachinhos de anjo. Alguém que acha Tristão e Isolda "bonito" e que chora no Globo Repórter. Alguém que sonha apesar da realidade, que não mede esforços, que se entrega totalmente e que, de certa forma, aprendeu a lidar com o medo do melhor jeito.
Alguém que pira com Sonata de Outono, mora em Dogville e, apesar de ser apaixonada por Trainspotting, escolheu a vida.
E acreditem, quando você deixa de ser meramente escolhido pela vida e conscientemente a escolhe, faz toda a diferença.
Toda.
Sobre, eu substituo uma obsessão por outra, um vício por agulha, uma dor por amargo na boca.
E elas são o padre com quem me confesso...
É o gozo frio que me destaca da vala-comum da dita mulher direita. O toque antropofágico nascido do nada, de bocas que se devoram sem ar, asmáticas e sem fronteiras, doentes de dores de cabeceira e choros secos como pólvora boa. São os caçadores sem presa que, tórridos de ira deste não-encontar da savana, se atracam em rugidos de uma dupla de leões. Não é em pé de igualdade, claro, pois uma juba sempre tem a outra como menor, e as patas dele acariciam com desprezo latente, ainda que contido, mas que vai virar história no dia seguinte. Nas patas dela, que estavam sem garras e sem veneno tão pouco atrás, apenas o desgaste ansioso do grito egocêntrico. Essa luta de feras que buscam apenas o desejo egoísta se desdobra em medidas, em contagens e percentuais de loucura alcançados - eles não precisam de espaços, precisam apenas do jogo "minimamente discreto ainda que explícito", sem teto ou móveis, sem sala cozinha banheiro quarto cama. É desnecessário, pois a selva abraça animais da noite, felinos (pois os prefiro) sem rumo, sem eira, sem temor maior que seus temores nascentes da luz do dia.
Nunca achei isso doce, mas o ácido do desprezo mútuo era verdadeiro deleite, ainda o é. A felicidade risível do ter sem pertencer, fuga das amarras mudas, tudo isso é tão sublime como trezentas lâminas dilacerando minha carne.
No fim, tudo é sangue.
E tudo acaba em.... nada. Montes de palavras empilhadas, sentidos tortos e contra-mão lingüística. Eu sepre fui contra palavras, ainda sou, essa verborragia vacilante que salta para fora de nós com a postura da verdade e se estatela no chão em frangalhos de pensamento vazio.
Já me perguntaram algumas vezes como eu, a mais escritorazinha de todos, consigo falar mal das nossas amigas palavras, mas é simples: de tão companheiras, elas se formatam rapidamente do jeito que eu quero, independente do sentir. Minhas amigas me protegem (me destroem), mas sempre, sempre, sempre me ajudaram a mentir com a placidez da sinceridade.
Minto até quando finjo ter algo a dizer (por ter começado esse post), quando na verdade estou escrevendo aqui só pelo hábito de blogar e manter essa página medíocre viva, pois ela tem sua serventia quando necessito.
Caso não o de agora, pois estou presa entre esperas túrgidas de nada que convém explicar ou refletir sobre.
Até minha poesia falha, vazia.
Poderia dar um grito de desespero, mas minha voz não se comove o suficiente para tanto.